domingo, 27 de abril de 2008

Ponha a risada na cara mulata

PONHA A RISADA NA CARA MULATA
CRIS SOUSIL 19.09.08

Ponha a risada na cara mulata,
o trem abarrotado,
as ruas emburacadas,
seu pai embriagado,
a amante de seu esposo,
o choro de seu filho,
o cheiro de urina do esgoto,
alagamento no morro,
os trombadinhas na esquina,
as longas filas do banco,
a cara de diabo de seu chefe,
o cheque que não paga as contas,
ah mulata,
nada se esfuma,
fume a poesia no vaso florido da janela
e ria
ria
até doerem os seus dentes cariados
e as lombrigas de sua pança.

Ponha a risada na cara mulata,
a sucata se veste com espuma de sabão,
bolhas, amarelinha, pula pula, esconde-esconde,
assim se esconde as cicatrizes da população massacrada,
Por que crê que o samba é clero
e o carnaval o altar das almas brasileiras?

Ponha a risada na cara mulata,
amanhã você põe um tijolo a mais
na construção de um novo castelo,
risada nos escombros
desse duelo diário,
mas hoje,
ponha a risada na cara, mulata
e suspira um pôr do sol gargalhado.

Nenhum comentário: